A sociedade brasileira vem terceirizando,
histórico-culturalmente, seus eventuais fracassos e suas responsabilidades,
atribuindo-os ao Estado, ao sistema político-econômico, ao diretor e ao
professor da escola, ao síndico do prédio ou ao destino, isentando-se da
obrigação de pensar e agir, da urgência em mudar seus hábitos e valores e de
transformar a si e ao seu mundo, negando-se a assumir definitivamente seu papel
diante das necessidades contemporâneas, em especial no que diz respeito ao
ensino público de educação básica. No caso dos gestores públicos, infelizmente,
a educação de qualidade ainda parece longe de fazer parte de suas prioridades,
ficando à mercê de um sem-número de problemas, tais como descontinuidade das
iniciativas educacionais, a superlotação das salas de aula, a deficiência na
formação do professor, o descaso com a saúde do aluno e a do professor.
Na última eleição presidencial brasileira, como um indício do
despertar em direção à construção do movimento pela educação pública de
qualidade – embora esse seja um sinal ainda mais simbólico do que prático –, um
dos candidatos pautou a Educação como o principal pilar de seu programa de
governo, propondo, por meio desta, uma revolução no País. Isso desencadeou um
efeito cascata: todos os outros candidatos passaram a inserir a questão
educacional em seus discursos. Estamos as vésperas de uma nova eleição e a
educação continua do mesmo jeito. O candidato eleito não fez uma revolução nem
tão pouco priorizou a educação. A histórica falta de prioridade com o ensino
público básico e a sua ausência nos planos diretores e propostas do Estado, até
por não fazer parte das prioridades da própria sociedade, está refletida, por consequência,
em prejuízos na concepção e implementação de políticas públicas eficientes que
tragam verdadeiramente resultados substanciais à melhoria da qualidade da
escola pública de ensino básico.
Temos então, o seguinte dilema: a sociedade não tem uma educação
pública de qualidade porque esta não é prioridade do poder público. Por outro
lado, o poder público não a prioriza porque isso não constitui uma demanda da
sociedade e, portanto, não desperta o interesse político.
Faz-se então necessária uma grande reestruturação qualitativa
da educação pública brasileira de ensino básico, considerando os inúmeros
desafios e envolvendo de forma participativa e cooperativa todos os atores da
sociedade. Para legitimar qualquer diálogo e iniciativa no campo da educação, é
preciso o envolvimento verdadeiro dos autênticos protagonistas da práxis
educativa – os professores –, partindo dos seus sonhos, suas angústias,
sugestões e experiências, acumulados ao longo dos anos de magistério, além das
passagens por escolas diversas e as inúmeras mudanças de gestores públicos.
a
educação não é uma prioridade para a sociedade. Precisamos começar a pensar e agir. Precisamos mudar nossos hábitos, precisamos principalmente aprender a votar. Precisamos priorizar a educação.